TRADUÇÕES - DOENÇA DE PARKINSON

Este blog destina-se a textos traduzidos sobre DP e integra o site (conjunto de blogs) Doença de Parkinson.

quinta-feira, novembro 10, 2005

OPERARAM MEU CEREBRO ACORDADA


Rayilyn Brown, PcP 69-10-2, fala sobre o tratamento que melhorou sua vida.




“Fui diagnosticada com doença de Parkinson na faixa dos sessenta. Isso faz 10 anos e, na ocasião, jurei que jamais faria a cirurgia de estimulação profunda do cérebro (DBS). Esse procedimento implica na perfuração do crânio e na colocação de eletrodos – mantendo-se o paciente acordado -- para controlar os tremores.

Eu tinha feito duas cirurgias na vida: uma vez aos 20 anos, por um problema abdominal, e outra aos 40, após o diagnóstico de um cancer no ovário. Sofri de tremores em meu lado esquerdo, devido ao Parkinson, por sete anos e quando notei esse sintoma no lado direito decidi, embora relutantemente, pesquisar sobre DBS.

Navegando na web, encontrei uma mulher do Arizona que havia feito essa cirurgia na clínica Scripps Clinic La Jolla, na Califórnia. Após muita pesquisa, fiz algumas anotações e pedi à pessoa que me assistia para levar-me a Murrieta, também na Califórnia, cerca de 76 milhas. Alí, consultei com Thomas Waltz, chefe de neurocirurgia da clínica.

Em 26 junho 2003, minha cabeça foi raspada e atrelada a uma espécie de coroa que serve para imobilizar o paciente, durante a varredura do tomógrafo (MRI) que o cirurgião usa para posicionar os eletrodos. Uma dose de Novocaina, um anestésico local, foi injetada no meu couro cabeludo, mas me permitia acompanhar toda a operação. Pude também sentir e ouvir a perfuração dos dois furos. O Dr. Waltz comentou a propósito do meu casco ser excepcionalmente grosso. Depois que os furos foram feitos, levou um par das horas para colocarem os elétrodos em uma área do cérebro chamada núcleo subtalâmico (STN), a qual é super estimulada nos pacientes com doença de Parkinson. Meu pé esquerdo, que era torto por causa da distonia, endireitou após a operação e está normal até hoje. Na hora da sutura me anestesiaram e quando acordei vomitei.

Em 3 julho do mesmo ano fui hospitalizada novamente. Desta vez, foi instalado um "marca-passo cerebral", ligado por fios a uma bateria, destinado a estimular partes profundas do cérebro com correntes elétricas. Há ligações de elétrodos que passam sob seu couro cabeludo como se fossem grandes veias, que descem pela garganta até a bateria situada no peito - como eles colocaram essas ligações no meu peito realmente ignoro.
O Dr. Waltz decidiu implantar a bateria do lado direito do meu peito, justamente porque o lado direito do cérebro controla o lado esquerdo do corpo. Mas ele não ficou satisfeito apenas com a colocação dos elétrodos em meu cérebro esquerdo, e eu teria que ser de novo operada. Ocorreu que com apenas o implante de um só lado, o tremor do lado esquerdo do meu corpo parou imediatamente.
No inicio de setembro de 2003 fui operada novamente: o procedimento inteiro se repetiu. Embora eu pudesse acompanhar a cirurgia, não sofri dores, porque o cérebro não sente. Nunca tive medo – e para ser bem honesta, esperei pela morte durante estes procedimentos, porque minha qualidade de vida desde logo era muito pobre. Mas consegui sobreviver.
O risco mais comum do DBS é infecção -- e eu acredito que a taxa do mortalidade é muito baixa. Aproximadamente 18.000 pessoas nos EUA com doença de Parkinson ou tremor essencial fizeram esta cirurgia, desde que ela foi introduzida, há aproximadamente uma década, por um médico francês. Eu conheço uma pessoa de 18 anos de idade, que vive no meu bairro, portador de uma distonia tão severa que estava constantemente em uma posição fetal. Após a cirurgia de DBS, está se mantendo OK.

Os tremores sempre foram os piores sintomas, aqueles que mais me incomodavam. A tecnologia médica permitiu-me continuar a viver por minha conta, com meu cão Spike. Eu mal posso andar ou falar, minhas mãos são como garras porque me falta coordenação motora fina, minha visão é dupla e prejudicada pela demasia de secreções. Eu sou uma professora de historia do colegial aposentada e não posso mais viajar ou ler, mas ainda nado e faço trilhas. Eu não recuperei o tempo perdido com o DBS, mas minha vida sem ele teria sido impossível. Algumas vezes os implantes desligaram acidentalmente, por causa geralmente de contato com peças imantadas, o que serve para lembrar-me a distância que devo manter delas.

Recentemente me inscrevi para participar como paciente de uma pesquisa do Dr. Woo-suk Hwang, da Universidade Nacional de Seul, na Coreia do Sul, considerada centro líder no estudo das células-tronco. Sei que a cura não me encontrará viva, mas ela virá um dia e eu gostaria que minha vida pudesse contribuir com algo.”

Fonte: CNN.com

DICA de Hugo (hugoengel@via-rs.net)